quinta-feira, 2 de julho de 2009

Da minha fria e desolada torre

Não me interesso pelas notícias, que de tão novas já estão velhas.
Não me interesso pela vitória do Corinthians. Não me interesso pela corrupção, pela fome, pelo desemprego, pela redução do IPI. Não me interesso por você. Dane-se o presidente do senado. Pouco me importa o verde na grama do vizinho. O que EU tenho a ver com o enterro do Michael Jackson? Maldita mídia! Paz aos vivos e aos mortos!
Mas também não me interesso por nada sobre mim. E com toda a sinceridade de uma egocêntrica, admito com orgulho sórdido que só EU tenho importância. Minha carne, meus ossos e mente. Minha alma, meu espírito e coração. O que de mim não pode ser tomado: o que sou.
Assim vou indo. Já não tenho pressa. Pressa de quê? Não quero chegar a lugar nenhum. Já não há caminhos, nem destino, nem planos, e nem nada. Só eu. Tão sozinha quanto vim ao mundo e também como, inevitavelmente, me despedirei dele. Me agarro ao que sou com todas as forças. Porque se agarrar aos outros, as coisas e as desgraças alheias desgasta. Decepciona. Nunca houve recompensa. Nunca haverá.
Eu me decepciono comigo. Mas não tenho como me abandonar. Só a mim, conformada, tolero. Afinal, não há outra opção. Até quando?

'A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.'


Vinícius de Moraes

Não sei. Eu nunca sei de nada. Mas, permitam-me, ao menos por hoje, ter o mórbido privilégio de ser a angústia do mundo.



****Só para dar satisfação à estranhos, um pequeno esclarecimento: não sou depressiva. É que hoje estou cansada dos outros. Realmente cansada. Rá!

4 comentários:

Cintia Ferreira disse...

ok..mas me dá uma beradinha pq eu tbm as vezes sou a angustia do mundo
bjo

Thayla Ramos disse...

Tá ok Cifers...eu alugo minha torre solitária pra vc..Rá!
Bjão

Unknown disse...

Tayla, estou boquiaberto!! nunca tinha lido um texto seu e... estou muito satisfeito! Vejo que temos uma turminha em sintonia... não de pensamento ou de caminho, mas justamente de dúvida e de descaminho. Maravilhoso... tente cada vez mais encontrar o seu estilo, vc tem boas referências... coloque-se sempre nesse vórtice que é a escrita densa, mas não a medíocre. A escrita simples, profunda e indecifravelmente cheia de segredos.

Caroline disse...

vou repetir os msm comentarios de sempre ...
seus texto são excelentes... muito boons mesmo... e esse naao eh diferente ...
parabééns msm thay ... minha + nova narcisistaa .. hahaha