quinta-feira, 3 de setembro de 2009

À Macabéa que há em nós.

"Ela era calada (por não ter o que dizer) mas gostava de ruídos. Eram vida. Enquanto o silêncio da noite assustava: parecia que estava prestes a dizer uma palavra fatal. (...) Mas vivia em tanta mesmice que de noite não se lembrava do que acontecera de manhã. Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte: já que sou, o jeito é ser. "


Entre essas reviravoltas atípicas que a vida dá, tive que alimentar a minha alma de algo que não fossem pessoas, já que as que estão a minha volta têm deixado a desejar. Elas sempre deixam a desejar, talvez porque eu exija muito dos outros, exija tanto que quero mais do que eu mesma estou disposta a dar. Mas isso não tem a ver com post, o fato é que o meu estado de decepção crônica sempre me leva a buscar alimento pra alma na literatura. E lá fui eu emprestar de uma amiga A hora da Estrela, da Clarice Lispector (de novo ela!).

Foi então que tive o prazer (desses prazeres que doem um pouco) de conhecer Macabéa. Essa personagem vítima do destino, fadada à miséria. Que não conheceu pai nem mãe, e que sequer tinha consciência da sua infelicidade. Ela que não questionava muito. Ás vezes eu sou assim. Ás vezes a correria do dia-a-dia, as obrigações e até mesmo a rotina me jogam nesse conformismo: já que a vida é assim, eu tenho que vivê-la e pronto. Mas, ás vezes, também sofro pelo que não posso (ou talvez não tenha coragem) de mudar:

"E achava bom ficar triste. (...) Claro que ela era neurótica, não há sequer necessidade de dizer. Era uma neurose que a sustentava, meu Deus, pelo menos isso: muletas. Vez por outra ia para a Zona Sul e ficava olhando as vitrines faiscantes de jóias e roupas acetinadas - só para se mortificar um pouco. É que ela sentia falta de se encontrar consigo mesma e sofrer um pouco é um encontro. (...) Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra. "

Talvez eu pareça um tanto dramática nessa comparação, só pra variar um pouco, rsrs. Porém eu não tenho dúvidas de que minhas neuroses é que me sustentam. Rá! Neurose de guerra. E embora Macabéa fosse uma retirante nordestina subnutrida, sem nenhum estudo, projeto de vida ou objetivo; ela é extremamente parecida com qualquer um de nós. Ela que por tantas vezes parece ridicularizada.
Quem nunca se sentiu "soprado" no mundo? Quem nunca foi uma peça da engrenagem que ficou de lado, sobrando, enquanto ela continuava a funcionar normalmente? Quem nunca foi tolo, nunca foi vítima, nunca sentiu saudade do que poderia ter sido e não foi? Como diz Clarice, 'quem não é um acaso na vida?'
"Pergunto eu: conheceria ela algum dia do amor o seu adeus? Conheceria algum dia do amor os seus desmaios? Teria a seu modo o doce vôo? De nada sei. Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só?"

Tá aí, desabafei. Dedicado à Macabéa que há em todos nós!

**Pra quem ainda não leu, recomendo. Pra quem já leu, sinta-se à vontade para descordar de mim! A-d-o-r-o! Rá.

5 comentários:

Cintia Ferreira disse...

Pois é, todos somos um pouco Macabéa, é verdade. Mas acredito que o problema maior está na consciência, nós que sabemos disso, nos descabelamos por mudança, por justiça. Ela sem consciência da sua infelicidade, apenas "era", ja que o jeito era esse. E aí está o drama todo, a tristeza do texto. Mas um texto tão lindo e tão simples, bem Clarice mesmo.

Muito bom o post
bjo Thay

Unknown disse...

É, minhas caras amigas. Já que somos, o jeito é ser.

Beijos! :)

Capitu disse...

amooo esse livro, até mês passado fui uma Macabea ainda sou kkkkk
o que me assusta nela era esse conformismoo kkkk
bjuuss , ps tem texto novo n meu blogg passa la

Sula disse...

Macabea. Acho que ja li esse livro e também vi uma produção sobre a história, acho que na globo...

Agora somos todos um pouco de
Macabea, pelo menos um minuto por dia...

bjos thay!

Thayla Ramos disse...

É meus queridos, que bom ter a certeza de que todos nós somos Macabéa ao menos por uma fração de segundo. E que a nossa hora da estrela ainda demore a chegar!