segunda-feira, 27 de julho de 2009

Meu vício agora

Kid Abelha
Composição: George Israel/Paula Toller

Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão
Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre e um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão
Meu vício agora...É o passar do tempo
Meu vício agora...Movimento, é o vento, é voar...é voar

Não vou mais verter
Lágrimas baratas sem nenhum porque
Não vou mais vender
Melôs manjadas de Karaokê
E mesmo assim fica interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...Desedificante
Meu vício agora... É o passar do tempo
Meu vício agora...Movimento, é o vento, é voar... é voar




Deixo-vos essa música, que traduz tudo o que eu quero falar hoje: e hoje meu desejo é falar sobre nada, nada a não ser sobre a sensação que esse desejo me causa.
'Hoje eu falo de silêncio. Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas. Fico ausente, estou ausente. Tenho falado muito em minha vida, tenho escrito talvez demais. Nem sempre acerto o tom, nem sempre encontro as palavras(...)' {Lya Luft}
Hoje eu não encontrei as palavras. Mas eu gosto de dividir minhas sensações. Livra minha consciência do egoísmo. Rá!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Já passou...PASSOU?!

As coisas mudam de uma maneira assustadora e irreversível.

Eu não gosto mais de fazer aniversário e segundo uma propaganda de cosméticos já tenho idade suficiente para usar o meu primeiro creme antirugas, só 'para prevenção'. A filha da vizinha cresceu e está de casamento marcado. Meu pai agora usa óculos e minha mãe precisa pintar os cabelos com mais frequência. Meus avós estão morrendo. O primo que eu carreguei no colo está namorando.

Eu tenho dívidas e um cartão de crédito, tenho 'experiência' e tô desempregada. Na velha casa onde meus avós moraram, eu consigo ver pela janela da sala o rosto de um desconhecido. Os móveis não são mais os mesmos e a parede tão calejada já não é bege. O bar da esquina onde eu costumava mendigar um chocolate pro meu tio fechou e virou um cubículo abandonado....


Eu olho para trás, para uma época não tão distante assim, e sinto falta daquela certeza inabalável que eu tinha de tudo. Eu acreditava mais em Deus, acreditava mais em mim e nos outros. O futuro parecia incrível e seguro. Eu amava minhas ideologias e poderia, sem exagero, dar a minha vida por elas. Não tenho saudades de andar vendada, não quero de volta a inocência perdida.

Hoje, assim como ontem mas não como anteontem, eu não tenho nenhuma certeza, o futuro é mistério: eu tenho medo do tempo. E do passado, tenho essas lembranças nítidas. Tinha também um incômodo quando pensava nas tantas situações mal resolvidas - mas o tempo, depois de um certo tempo, foi o que mostrou que não havia mas como fazer o não feito: já havia passado da hora. Cresci. Passou. Hoje não é mais o momento, o ontem não volta e amanhã é muito, muito tarde. Passou.


(Mas ontem um fantasma do passado com o qual eu não trombava faz tempo escapou do cemitério enquanto eu olhava pra trás e deu as caras. Ele anda vagando por aí como uma alma penada, e apareceu nítido e deprimido: uma alma presa no tempo pedindo para ser libertada. Ela quer ser salva e só eu posso fazer isso - ela quer que eu resolva o não resolvido. Mas já passou da hora. Mas ainda há muito tempo. Tem hoje. Tem amanhã. Mas já passou. Passou?!)


Eu fiquei pensando nisso e não consegui dormir. Não consegui comer. Nada me distraiu. Mas agora eu hei de ter paz....
As coisas mudam de uma maneira assustadora e irreversível.

sábado, 11 de julho de 2009

19 anos sem Agenor

Estou bem atrasada, mas não podia deixar de registrar: dia 7 completaram-se 19 anos da morte de Agenor de Miranda Araújo Neto (Cazuza). Infelizmente, ele se foi com 32 anos, vítima da AIDS, só 23 dias antes de eu chegar ao mundo. É um pena...mas uma prova de que o poeta exagerado não morreu é que sua obra continua aí, influenciando outras gerações. E em homenagem à ele, deixo-vos a última música, do último lado, do último disco de Cazuza: 'Quando eu estiver cantando", interpretada por Renato Russo.





Te amo exageradamente Cazuza!
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Imortais...

...Até que nós e a mídia os matemos!

Eu gostaria de fugir do tema tão repetitivo, mas é impossível. Não terei paz enquanto não externar o que sinto. Entendam. Quando escrevo, é como se os meus questionamentos e idéias se organizassem em minha cabeça e fizessem sentido... só assim exorcizo meus temores.

Então aí vai. Mais uma vez não consigo acreditar nas notícias. A informação é de 9 dias atrás, mas só fui saber hoje: ao menos 12 fãs do Michael Jackson se suicidaram após saber da sua morte. É ou não é de chocar?!
Um psicólogo disse em um desses progametes de TV que a informação não foi amplamente divulgada pela mídia por medo de incentivar outros fãs a fazerem o mesmo. Tentaram evitar uma espécie de apologia ao suicídio. Diante de tanta loucura, não tenho dúvidas de que isto realmente aconteceria.

Mas eu não vou recriminar ninguém, não quero taxar os tais fãs que se suicidaram de loucos ou fúteis: eu os compreendo perfeitamente. Sim! E não é porque sou fã do Michael Jackson não. Mas é que faltam ao ser humano tantas coisas: falta mais lealdade, mais sinceridade, mais pureza, mais fé. E sobra hipocrisia, sobra ganância, sobram interesses, sobra tanta falta de caminho. Minha vida também anda medíocre, eu tenho sido tão medíocre...

A gente se surpreende tanto com esses seres humanos verdadeiros e falhos que nos cercam, a gente se surpreende tanto com a gente mesmo; que é muito mais fácil escolher um ídolo, um mito, alguém infalível. Alguém que, no imaginário popular, resuma tudo o que nós gostaríamos de ser, mas não somos. O que gostaríamos que os outros fossem, mas não conseguem ser. Alguém imortal. Talvez é assim que esses fãs idealizavam Michael. Talvez eles não tivessem auto-estima, não tivessem planos, não tivessem objetivos na vida....talvez eles projetassem suas vidas na vida dele.

Mas infelizmente os seres humanos são perecíveis e mortais. Do artista, o que fica de imortal é a obra, é o mito. E é só com isso que deveríamos nos preocupar. O que passa disso não é saudável, nem para o fã e nem para o 'ídolo'. Porém é difícil. Algo dentro de nós grita, aguça nossa curiosidade, e nos faz querer saber sempre mais. Com certeza a mídia lucra muito com a nossa curiosidade. E sem querer falar da vida pessoal do Michael Jackson, mas já falando, acredito que parte da sua paranóia vinha justamente de tanto assédio, tanta falta de privacidade. Não estou com isso afirmando que ela era inocente das acusações de pedofilia, mas eu prefiro acreditar nessa versão.

É medonho observar como há uma linha tênue entre a admiração e o fanatismo, entre a realidade e a loucura. Eu tenho dó do falecido Michael. Talvez eu esteja enganada a seu respeito. Mas nós o elegemos o rei do pop e lotamos seus shows. Depois destruímos sua imagem e demos crédito aos tablóides sensacionalistas. Causamos indiretamente seu vício em remédios, tiramos sua vida e ainda fizemos um contraditório e deprimente canto fúnebre. Para encerrar com chave de ouro, transformamos Michael em um santo com inúmeras homenagens póstumas. Um endeusamento doentio. O fato é que cada um de nós tem uma parcela de culpa, com maior ou menor dimensão, sendo fãs de seu trabalho ou não. Mas isso já não importa: Nós o matamos.


Tomara que eu esteja completamente errada. Adorarei saber que estou exagerando. Mesmo.

domingo, 5 de julho de 2009

Curtindo a fossa...

Hoje a manhã não era de Sol, mas decidi com uma força de vontade, destas que ficam guardadas bem lá no fundo, que era hora de sair da minha torre e me preocupar com os outros. Quando eu fico assim, pasmem: sinto todas as dores do mundo. E nessa ilusão ideológica, quero causar a paz mundial, salvar todas as criancinhas da fome, tirar a Amy Winehouse do vício e acabar com a má distribuição de renda. Rá!
Bom, mas hoje eu não interesso. Como diz Lya Luft, tenho falado demais em minha vida. O assunto é outro. Eu (de novo 'eu', acalmem-se) estava à toa no sofá, mais especificamente assistindo um noticiário, quando fiquei incomodada com o que ouvi: serão investidos R$ 7 bilhões em saneamento básico no Brasil nos próximos anos. Para que o país esteja preparado para sediar a Copa do Mundo em 2014, é necessário reverter o quadro deplorável de apenas 49,44% da população brasileira com rede de esgoto.


Provavelmente eu sou alienada ou ingênua demais, mas mesmo sabendo que o nosso saneamento básico não é dos melhores, a informação de que mais da metade da população ainda caga em fossas me deixou no minímo boquiaberta. Também não entendo nada de administração pública, mas acredito que se houve verba suficiente para disponibilizar internet wi-fi na baixada carioca, o problema da falta de esgotos já poderia ter sido solucionado (ou ao menos amenizado) há tempos, e não só agora com o alvoroço da copa.

Talvez eu esteja gravemente equivocada. Ter acesso a internet é realmente indispensável, é na verdade mais essencial do que ter uma privada em casa. Os brasileiros realmente curtem as fossas. Rá! SERÁ? É má administração ou descaso?


**Desculpem incomodar. Foi só pra constar o meu incômodo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Da minha fria e desolada torre

Não me interesso pelas notícias, que de tão novas já estão velhas.
Não me interesso pela vitória do Corinthians. Não me interesso pela corrupção, pela fome, pelo desemprego, pela redução do IPI. Não me interesso por você. Dane-se o presidente do senado. Pouco me importa o verde na grama do vizinho. O que EU tenho a ver com o enterro do Michael Jackson? Maldita mídia! Paz aos vivos e aos mortos!
Mas também não me interesso por nada sobre mim. E com toda a sinceridade de uma egocêntrica, admito com orgulho sórdido que só EU tenho importância. Minha carne, meus ossos e mente. Minha alma, meu espírito e coração. O que de mim não pode ser tomado: o que sou.
Assim vou indo. Já não tenho pressa. Pressa de quê? Não quero chegar a lugar nenhum. Já não há caminhos, nem destino, nem planos, e nem nada. Só eu. Tão sozinha quanto vim ao mundo e também como, inevitavelmente, me despedirei dele. Me agarro ao que sou com todas as forças. Porque se agarrar aos outros, as coisas e as desgraças alheias desgasta. Decepciona. Nunca houve recompensa. Nunca haverá.
Eu me decepciono comigo. Mas não tenho como me abandonar. Só a mim, conformada, tolero. Afinal, não há outra opção. Até quando?

'A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.'


Vinícius de Moraes

Não sei. Eu nunca sei de nada. Mas, permitam-me, ao menos por hoje, ter o mórbido privilégio de ser a angústia do mundo.



****Só para dar satisfação à estranhos, um pequeno esclarecimento: não sou depressiva. É que hoje estou cansada dos outros. Realmente cansada. Rá!