quinta-feira, 13 de março de 2014

Quem quer ser Lutero?



“Eles fazem caso omisso do evangelho, e aplicam-no somente as suas fábulas. Assim procede toda a sua tirania, com palavras fingidas, torcendo e alterando pela força as palavras de Deus.”
Martinho Lutero 

A maioria dos protestantes sabe, ou ao menos deveria saber, que não conheceríamos o Evangelho da maneira que conhecemos hoje se não fosse pela reforma iniciada por Martinho Lutero no século XVI. Essas palavras de Lutero se referiam as autoridades da Igreja Católica de sua época, que propagou a doutrina da aquisição de indulgências como expiação pelos pecados. 

Itens sagrados, supostamente pertencentes aos santos, eram vendidos ao fiéis, que acreditavam que a posse dessas peças tinha o poder de anular as transgressões e livrar suas almas do "purgatório". Foi assim, com a criação de uma verdadeira indústria de indulgências, que a Igreja enriqueceu tremendamente.

Lutero se opôs à esta prática e passou a defender a ideia de que o perdão divino é um dom a ser aceito, e não um prêmio a ser conquistado. Seus inúmeros estudos bíblicos também visavam provar que o papado não tem autoridade absoluta. O padre alemão, que era doutor em Teologia, defendia Cristo como o único mediador entre Deus e os homens, dando autoridade exclusiva as Escrituras. 

Para tornar a Palavra acessível e instruir os fiéis, ele traduziu a Bíblia para o idioma alemão. Antes, o Livro era um privilégio apenas dos ministros religiosos. Em 1520, com a publicação das “95 Teses”, propôs a reforma da Igreja Católica Romana, dando início ao movimento protestante. 

No entanto, com a nova liberdade de pensamento pregada pela Reforma, males também viriam. Inúmeras denominações surgiram por conta da livre interpretação da Bíblia, cada uma com doutrinas diferentes. Antes da sua morte, Lutero disse aos amigos: "Quantos mestres diversos seguirá o próximo século? Cada um desejará fazer-se seu próprio salvador; e, então, quantas dissipações, quantos enormes escândalos (...). Meus irmãos farão um grande mal ao Evangelho". 

E não é que ele acertou? Hoje, as denominações provenientes da Reforma Protestante é que precisam de uma reforma. Suas críticas, que eram para as autoridades da época, nunca foram tão atuais.  Não temos indulgências, mas temos a ainda mais perversa Teologia da Prosperidade. Líderes destorcem passagens bíblicas para convencer as pessoas de que é possível barganhar com Deus. Você se esforça, dá à Igreja até o que não têm e por isso é abençoado por Deus - porque sacrificou seus bens e fez por merecer. Como se bênçãos estivessem à venda. 

Temas como riquezas, vitórias e tudo o que pode ser comprado nesta Terra estão no topo dos discursos e dos púlpitos. As boas obras são enfatizadas, como se pudessem produzir a vida eterna. Tanto para a obtenção das bençãos terrenas quanto para a Salvação da alma, a Graça, que é o favor imerecido de Deus, fica no fundo da gaveta. Jesus? Quem é esse? Quase não é mencionado, a não ser como mantra. 
Hipócritas! Destruíram a loucura do Evangelho, o escândalo da Cruz. Invalidaram o sacrifício do Cordeiro, do Eterno, que se fez carne, nasceu, morreu e ressuscitou para reconciliar os homens com Deus e trazer Salvação.

Até macumba gospel já inventaram. Amuletos, sal grosso, arruda e outras tranqueiras são usadas em processos de "libertação espiritual", verdadeiras muletas da fé. Como se o sangue de Cristo já não fosse o suficiente. E para se obter tais itens, é claro, tem que contribuir - ou melhor, pagar. Precisamos de uma geração que se levante contra essas barbaridades e promova justiça.

 E aí? Quem quer ser Lutero?

Porque, se é promessa, não chegamos a ela por nenhuma obra, nenhum esforço nem mérito, mas somente pela fé. Pois onde está a palavra de Deus que promete, ali é necessária a fé do homem que aceita, para que se evidencie que a fé é o princípio de nossa salvação, que depende da palavra de Deus, o qual sem esforço algum de nossa parte, por sua bondosa e imerecida misericórdia, se antecipou a nós e nos oferece a palavra de sua promessa. 

(...) Isso significa que o autor de sua salvação não é o homem com algumas obras suas, mas Deus por sua promessa para que tudo dependa da palavra da sua virtude, e por ela tudo seja sustentado e conservado, com a qual nos gerou para que fôssemos primícias de suas criaturas. 

Martinho Lutero – Do Cativeiro Babilônico da Igreja



sábado, 17 de julho de 2010

Olhai para os lírios do campo



"Pressão, me derrubando com um empurrão,
Derrubando você, nenhuma pessoa pede por isso.
Sob pressão - que incendeia um edifício inteiro,
Divide uma família em duas,
Coloca as pessoas nas ruas.
É o terror de saber a que ponto chegou o mundo.
(...) A insanidade sorri, sob pressão estamos pirando!
Não podemos dar a nós mesmos mais uma chance?"

(Queen - Under Pressure)

Quem nunca ouviu essa música? É através dela que quero retratar o sentimento que predomina as ruas e os corações das pessoas com quem convivo: a pressão. Pressão que vem da nossa sociedade e dos parâmetros de felicidade que se estabeleceram à todos, sem consulta prévia a nossa individualidade e ao ritmo de vida que cada um possui.

Na TV, um mundo de ilusões com pessoas sempre lindas e bem-sucedidas ronda os filmes, novelas e tudo o mais que é exibido. No trabalho, não importa o quanto você se esforçe, não será o suficiente se você não for o melhor no que faz. Nas escolas e faculdades, ao invés de ensinar valores como companheirismo e trabalho em grupo, o que vejo são professores treinados para incitar apenas a competição entre os alunos. Entre amigos e conhecidos, o que você tem, aonde vai e com quem vai define teu "status". Na tua família, que na maioria dos casos sempre te deseja o melhor, as pessoas irão se preocupar e te cobrar se algo na sua vida não vai bem. E até mesmo em algumas igrejas, o que vejo é um espírito de hipocrisia que maqueia todos os problemas e defeitos sob o pretexto de que fraquezas representam uma má qualidade na "vida espiritual". Concluindo, para provar ao mundo que você vai bem, a regra é esta: perfeição.

Minha geração está doente, eu estou doente. Esses dias estava conversando com uma senhora que trabalha comigo, e ela me contava que o seu filho, assim como eu, está com labirintite (algo que não é tão normal quando se está na casa dos 20 anos...ou ao menos não era). Inspirada, ela veio me contar que uma terapeuta afirmou-lhe que a labirintite é provocada por um desequilíbrio emocional. Segundo ela, a ansiedade provocada pelo peso de ter que fazer uma escolha importante pode se transformar em patologia; assim como toda a patologia, antes de se manifestar em nosso corpo, tem origem na mente.

Sim, eu estava diante de uma decisão que julgava ser extremamente importante, como contei em um post recente aqui no blog. "O que devo fazer então para me livrar da labirintite? Decidir logo o que quero?", indaguei. E a sábia resposta que recebi foi uma lição que há tempos já havia aprendido, mas esqueci. "Apenas peça o que for melhor para você e não fique ansiosa. O que for para ser seu, será; seja isso uma pessoa, um emprego, ou qualquer outra coisa. Entregue-se a algo superior e acredite que a vida lhe dará o que for melhor para você neste momento. Mas isso é tão díficil, não é? Entregar-se...", afirmou a senhora sorrindo tranquilamente.

Lembrei-me então de uma passagem bíblica: "Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como qualquer um deles." (Mateus 6:28/29). Salomão, diz a bíblia, foi o rei mais próspero de Israel, possuidor de uma riqueza até hoje incalculável. Se Deus faz com que uma flor exceda o luxo de um dos homens mais ricos do mundo, imagine o cuidado que Ele não tem por nós? "Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo." (Mateus 6:33/34)

Entregar-se é mesmo difícil, mas é o que estou tentando fazer mais e mais a cada dia. Ao invés de buscar a perfeição e ceder à pressão que paira no ar, escolho preocupar-me menos e ser feliz com o que tenho. Quanto ao que me falta, entrego nas mãos de Deus e sigo dando o meu melhor na caminhada. Agora, peço licença: vou fugir desta paranóia coletiva e parar para olhar os lírios do campo.

"O que vai acontecer, acontecerá. Sossega, barquinho na correnteza, Deus dará." (Caio F. Abreu)

terça-feira, 1 de junho de 2010

No meu jardim


Esses dias uma amiga muito querida me disse impressionada que eu estava diferente. Mais otimista, mais feliz. Que não sabia o que estava acontecendo na minha vida, mas que agora eu parecia mais satisfeita. Sabe que ela tem razão? Mas não se trata do que acontece na nossa vida, e sim na nossa alma, no nosso coração. Eis aí é a explicação para a suposta mudança:

"Quando eu saí de uma depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construí-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente.
E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos para não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo.
Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas."
Rita Apoena


É, Deus tem me ensinado a cuidar melhor de meu vasto jardim e a me incomodar menos com a qualidade do jardim alheio.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A madrugada em que o país parou

Vinte e sete de março de 2010, 0h45: a madrugada em que o país parou em frente ao Fórum Regional de Santana, Zona Norte de São Paulo, para ouvir do juiz Maurício Fossen a sentença de condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.

O homicídio triplamente qualificado praticado pelo casal contra Isabella Nardoni, morta em 29 de março de 2008, quando foi jogada pela janela do sexto andar do Edifício London, prendeu a atenção de toda a mídia e causou comoção pública jamais vista diante de um assassinato. O motivo? Alexandre Nardoni é pai de Isabella, e Anna Carolina Jatobá, a madrasta supostamente ciumenta.

Durante meses, todos os canais, revistas e jornais nacionais e regionais realizaram uma ampla cobertura do caso, acompanhando os depoimentos, as perícias e, finalmente, a prisão do casal Nardoni. Porém, o que mais ganhou espaço nas manchetes e primeiras-capas foram fotos retratando a ex-vida feliz da garotinha “assassinada” e a irremediável dor de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, cujo rosto tornou-se tão conhecido e exposto quanto o do presidente Lula.

A cobertura da morte da menina atingiu proporções de um romance policial imperdível, com direito a cenas de drama, suspense e ação que foram acompanhadas fielmente por milhões de brasileiros. Mas, ao contrário do incrível desfecho desta “novela”, a maioria dos casos de homicídios ou tentativa de homicídio entre pais e filhos termina com o réu recebendo uma sentença favorável. A conclusão é de um estudo da antropóloga Daniela Moreno Feriani, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Unicamp. Ela avaliou 34 processos tramitados e julgados em um período de 20 anos - entre 1982 e 2002 - no Fórum de Campinas.

Segundo a pesquisa, divulgada no início deste ano, de 34 processos pesquisados, em 17 o réu teve sentença favorável e em oito houve condenação. Os outros processos foram arquivados por diversos motivos, como falecimento do réu ou desqualificação do crime para lesão corporal. Qual é, então, a novidade para tanto estardalhaço diante do Caso Isabella?

Um peso, duas medidas

Cerca de 200 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, estavam aglomeradas em frente ao Fórum de Santana à meia-noite e 45, enquanto o juiz lia a sentença de condenação dos Nardoni. Em seus televisores, milhares de pessoas acompanhavam ao vivo a reação eufórica dos civis quando o resultado do julgamento soou pelos vários alto-falantes instalados nos portões e calçadas do Fórum.

Uma onda de alegria e fúria espalhou-se entre os presentes. Civis bateram palmas, pularam, soltaram fogos de artifício, balançaram-se nas grades de proteção do local. Fotógrafos dispararam simultaneamente seus flashes e repórteres narraram o resultado do julgamento com a entonação de quem narra o glorioso fim de uma partida de futebol.

Porém, emocionante mesmo foi o retorno do casal à penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba, a 140 quilômetros de São Paulo, onde voltaram a ocupar suas carceragens. As pessoas aguardavam na saída do Fórum. A Polícia Militar temia um linchamento. Só que atirar pedras, tomates e disparar chutes e palavrões contra os veículos fortemente protegidos, onde os assassinos estavam invisíveis, foi o máximo que os civis conseguiram fazer. Tudo isso, é claro, sobre o respaldo de câmeras e microfones.

Mas, ainda pior do que uma sociedade que comemora quando deveria calar-se e cala-se quando deveria protestar, é uma mídia que faz o mesmo. Se antigas teorias dizem que o jornalismo é o espelho da sociedade, talvez elas não estejam tão obsoletas: a imprensa brasileira realmente faz jus à frase.

Se inúmeros casos como o de Isabella acontecem no Brasil, por que não recebem a mesma repercussão e fiscalização da imprensa? Por que, diferentemente de Isabella, as crianças assassinadas não são filhas de advogados? Por que os pais que cometeram homicídio não são proprietários de um apartamento na Zona Norte de São Paulo?

De maneira nenhuma é maléfico que a mídia fiscalize o cumprimento das leis e procedimentos que são de interesse público: mas é maléfico que isso seja feito de acordo com o interesse do público, apenas quando as circunstâncias de um crime rendem boas fotos e entrevistas emocionantes, que garantam um aumento de audiência e vendas de exemplares. Se a imprensa brasileira não trabalhasse com um peso e duas medidas, talvez os 17 dos 34 homicídios entre pais e filhos nos últimos anos não teriam ficado impunes.

**Abri um espaço no blog, que não pretende ser jornalístico, postando este texto produzido em Março para a matéria de "Gêneros Jornalísticos", do curso de Jornalismo do ISCA Faculdades. Não resisti! rs

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Até quando esperar?

"(...) aprendi o perigo de concentrar-se apenas no que não está ali. E se no fim da vida eu compreendesse que passara cada dia esperando um homem que nunca viria? Que dor insuportável seria, entender que eu realmente nunca saboreara as coisas que tinha comido, nem enxergara direito os lugares aonde havia estado, porque só pensava nele, enquanto minha vida estava passando. Mas se afastasse dele meus pensamentos, o que me sobraria de vida? Seria como uma bailarina que treinara desde a infância um espetáculo que jamais apresentaria."
...Memórias de uma Gueixa - Arthur Golden

Há algumas semanas terminei "Memórias de uma Gueixa", o livro mais belo que já li. Através das histórias da sábia Chiyo, posso afirmar que aprendi várias lições, mas a principal delas tem muito a ver com a minha própria história. Na trama, Chiyo é vendida pela família quando criança para uma casa de gueixas em Kioto, onde é maltratada e prejudicada por sua rival, Hatsumono. Com a ajuda de Mameha, a menina consegue se tornar uma gueixa reconhecida.

Em sua jornada até se transformar na famosa Nitta Sayuri, cada obstáculo que a garota enfrenta é superado com o objetivo de reencontrar o Presidente, homem que ela conheceu na infância quando era uma criada e por quem se apaixonou. O que ela nem imagina é que Mameha, sua protetora, foi enviada para ajudá-la pelo próprio Presidente, que sempre a tratou com indiferença.

Vocês podem imaginar, lendo isto, que o livro é mais um desses romances baratos, mas não é. Em primeira pessoa, Sayuri conta cada episódio de sua vida com tamanha profundidade que consegui sentir exatamente o que ela queria dizer. Obviamente a história é fictícia, mas é construída a partir de fatos reais, e mostra muito da cultura japonesa e da vida das gueixas do século XX, com várias passagens chocantes.

Entretanto, o que realmente me chamou atenção foi este ponto da história. Assim como Sayuri, minha vida tem sido construída em cima de uma esperança, e destinada à conseguir algo que pode não passar de uma grande ilusão. "Todo passo que dei em minha vida desde quando era criança, foi dado na esperança de me aproximar de você", disse Sayuri certo dia ao Presidente. Embora eu tenha negado isso à mim mesma por tantas vezes, sei que no fundo cada passo que dou em minha vida também é apenas por uma pessoa.

Ele estava lá, em cada revolta, a cada nova descoberta que fiz, em cada alegria que eu quis compartilhar. Quando fiz minha formatura ele estava lá, estava também quando entrei na faculdade, quando consegui meu primeiro estágio, quando mergulhei em qualquer relacionamento na tentativa de esquecer. Sempre em meus planos e pensamentos.

Tantos anos já se passaram, e o meu medo é que tantos outros se passem, até que em um belo dia eu perceba que minha vida passou e que sonhei todo este sonho sozinha. Corro o risco de não ter um final tão bom quanto o de Sayuri, ou de jogar tudo fora cedo demais. Outros caminhos sem volta se abrem a minha frente, e fico imaginado se não seria melhor pegá-los e mudar completamente o rumo da minha história. Por onde ir? Peço à Deus continuamente que me dê a resposta certa. Enquanto pensava nisso, uma música soou em meus ouvidos:

Yeah, how long must you wait for it?/ Quanto tempo você tem que esperar por isso?
Yeah, how long must you pay for it?/ Quanto tempo você tem que pagar por isso?
Yeah, how long must you wait for it?/ Quanto tempo você tem que esperar por isso?
...Coldplay - In my place


terça-feira, 27 de abril de 2010

Reciclar a alma

"Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem." [Teatro Mágico]

Chega um belo dia em que os papéis acumulados na gaveta, o cabelo muito comprido, o guarda-roupa desorganizado e resultados que não chegam sinalizam que há algo de muito, muito errado dentro da gente. Paro e penso: por que tudo isso? Como minha vida, planejada para ser proveitosa a cada dia e a cada momento deste ano, pode ter saído assim tão de repente do controle de minhas mãos?

Houve um tempo em que qualquer erro era fatal e qualquer frustração era suficiente para me deixar inerte, prostrada, à mercê do que a sorte me trouxesse. Quando finalmente decidi me reerguer, sabia que não poderia fazê-lo sozinha: mas ao invés de contar com pessoas, resolvi colocar minha confiança totalmente nas mãos de Deus, e é incrível como Ele nunca falha, como sua perfeição vai além do meu entendimento. O que me esqueci na minha jornada é que eu falho, e muito.

A diferença entre falhar com Deus e falhar sem Deus é que foi minha grande descoberta: Ele é quem nos dá a oportunidade, a cada novo dia que nasce, de começar uma nova história com os ponteiros zerados, com a cabeça erguida, com um sorriso no rosto. Apesar dos erros, enganos e decepções, de certos "amigos" a menos e de relações machucadas, minha fé em Deus segue firme, forte, inabalável!

Resta-me agora o dever e o bom-senso de novamente eliminar velhas ilusões, jogar fora os papéis amarelados e inúteis, organizar o guarda-roupa: reciclar a alma, renovar as forças e a esperança que moram em mim. Vivo vários ciclos e não dias e anos, esta é hora de saltar para o próximo e mudar aquele reflexo cansado no espelho. Dessa vez com a melhor compania que um ser humano pode ter! Mudar para que tudo ao redor também mude, essa é a regra do jogo.

"Se você continuar a fazer sempre o que fez, vai continuar a conseguir o que sempre conseguiu."
[Anthony Robbin]

sexta-feira, 26 de março de 2010

Breve tratado sobre a maturidade

A maturidade não é contada em anos, nem medida pelo número de relacionamentos vividos. A maturidade não bate à sua porta nem liga para seu celular cobrando atitudes que você não tem obrigação de tomar. A maturidade não altera a voz para impor autoridade, não age com ansiedade por medo de perder o que deseja e não faz fofocas sobre assuntos sérios. A maturidade não distorce palavras sinceras, não julga atitudes de outros em prol de seus benefícios, não exige carinho ou afeto imediatos, e sim tenta conquistá-los com paciência e astúcia.

A maturidade não quebra promessas, mas também não obriga ninguém a cumprí-las.

Maturidade é saber reconhecer tuas derrotas, é saber aceitar que você não é insubstituível com um sorriso no rosto, e não com uma hora de discussão. É preocupar-se em agradar ao outro sem desrespeitar a si mesmo, ao invés de revoltar-se quando você não é correspondido como espera e criar um drama desnecessário. É saber esperar o tempo de cada um, sem violar a privacidade alheia para matar a qualquer custo a própria solidão. É saber respeitar e apreciar as diferenças, e não entregar-se a decepção e a rejeição quando as coisas não saem como você espera e as pessoas não são como você idealizou.

O próprio agir com maturidade não é fácil, deve ser premeditado e requer, obviamente, que você tenha maturidade suficiente para aguentar as pressões emocionais do dia-a-dia.

Portanto maturidade é, sobretudo, o que te falta.

Fica aí, ao som de Amy Winehouse (que aliás deve ter feito essa música especialmente pra alguém que eu conheço, pois acertou até na idade) um simples recado de quem realmente sabe o que é maturidade para alguém que na vida ainda precisa evoluir muito!



"Voce deveria ser mais forte que eu
Afinal você está aqui sete anos a mais do que eu
Não sabe que é você quem deveria ser o homem?
E você nem se compara com o que você acha que eu sou
Você sempre quer conversar sobre isso
E eu não me importo (...)
Porque você tem sempre que me colocar no controle?
Tudo que preciso é que meu homem cumpra seu papel
Você sempre querendo conversar sobre isso... e eu estou bem (...)
É como se você estivesse lendo sobre isso em algum roteiro chato.
Eu não vou conhecer sua mãe em hora nenhuma,
Eu só quero segurar seu corpo contra o meu.
Me diga porque você acha que isso é um crime?
Porque já me esqueci das alegrias do amor juvenil
Pareço uma senhora,
E você parece uma "mocinha"...
Voce deveria ser mais forte que eu."

[Amy Winehouse - Stronger than me]

quinta-feira, 11 de março de 2010

Uma nova canção


Mais de um ser humano já me acusou com veemência de ter abandonado este blog, mas devo ressaltar que isso não é verdade. Nos últimos meses, o que abandonei foi o ceticismo e a tristeza, e sinto desde então a minha vida ser transformada todos os dias.

O fato é que eu tenho que ser menos egoísta, pois concluí que só escrevo bons textos quando estou melancólica, irritada ou decepcionada. Meu veneno então não cabe em mim e escorre entre os dentes, as vísceras, as palavras. E ultimamente, apesar da vida cotidiana e contratempos corriqueiros, paira no ar uma alegria que me invade e não cabe em mim. Que fase!

Portanto, devo aprender a compartilhar com o mundo não só os dissabores, mas as vibrações boas e sensações positivas também. Tentarei de agora em diante dividir os questionamentos, as polêmicas (adoro! rs), as bençãos e sentimentos relevantes aqui no blog. Que este Veneno Antimonotonia não nos seja letal, mas que seja liberado na dosagem ideal para matar apenas o comodismo. É em minha vida um novo tempo. Tempo, finalmente, de cantar uma nova canção...

"Eu esperei pacientemente pelo Senhor,

Ele se inclinou sobre mim e ouviu meu clamor.

Ele me puxou e me tirou do fundo do poço,

Para fora de um barro lamacento.

Eu cantarei, cantarei uma nova canção.

Ele colocou meus pés sobre uma rocha,

E os fez caminharem firmemente.

Muitos verão, muitos verão e ouvirão,

Eu cantarei, cantarei uma nova canção."

(U2 -40)


**Essa música é baseada no Salmo 40 da Bíblia.