quinta-feira, 13 de março de 2014

Quem quer ser Lutero?



“Eles fazem caso omisso do evangelho, e aplicam-no somente as suas fábulas. Assim procede toda a sua tirania, com palavras fingidas, torcendo e alterando pela força as palavras de Deus.”
Martinho Lutero 

A maioria dos protestantes sabe, ou ao menos deveria saber, que não conheceríamos o Evangelho da maneira que conhecemos hoje se não fosse pela reforma iniciada por Martinho Lutero no século XVI. Essas palavras de Lutero se referiam as autoridades da Igreja Católica de sua época, que propagou a doutrina da aquisição de indulgências como expiação pelos pecados. 

Itens sagrados, supostamente pertencentes aos santos, eram vendidos ao fiéis, que acreditavam que a posse dessas peças tinha o poder de anular as transgressões e livrar suas almas do "purgatório". Foi assim, com a criação de uma verdadeira indústria de indulgências, que a Igreja enriqueceu tremendamente.

Lutero se opôs à esta prática e passou a defender a ideia de que o perdão divino é um dom a ser aceito, e não um prêmio a ser conquistado. Seus inúmeros estudos bíblicos também visavam provar que o papado não tem autoridade absoluta. O padre alemão, que era doutor em Teologia, defendia Cristo como o único mediador entre Deus e os homens, dando autoridade exclusiva as Escrituras. 

Para tornar a Palavra acessível e instruir os fiéis, ele traduziu a Bíblia para o idioma alemão. Antes, o Livro era um privilégio apenas dos ministros religiosos. Em 1520, com a publicação das “95 Teses”, propôs a reforma da Igreja Católica Romana, dando início ao movimento protestante. 

No entanto, com a nova liberdade de pensamento pregada pela Reforma, males também viriam. Inúmeras denominações surgiram por conta da livre interpretação da Bíblia, cada uma com doutrinas diferentes. Antes da sua morte, Lutero disse aos amigos: "Quantos mestres diversos seguirá o próximo século? Cada um desejará fazer-se seu próprio salvador; e, então, quantas dissipações, quantos enormes escândalos (...). Meus irmãos farão um grande mal ao Evangelho". 

E não é que ele acertou? Hoje, as denominações provenientes da Reforma Protestante é que precisam de uma reforma. Suas críticas, que eram para as autoridades da época, nunca foram tão atuais.  Não temos indulgências, mas temos a ainda mais perversa Teologia da Prosperidade. Líderes destorcem passagens bíblicas para convencer as pessoas de que é possível barganhar com Deus. Você se esforça, dá à Igreja até o que não têm e por isso é abençoado por Deus - porque sacrificou seus bens e fez por merecer. Como se bênçãos estivessem à venda. 

Temas como riquezas, vitórias e tudo o que pode ser comprado nesta Terra estão no topo dos discursos e dos púlpitos. As boas obras são enfatizadas, como se pudessem produzir a vida eterna. Tanto para a obtenção das bençãos terrenas quanto para a Salvação da alma, a Graça, que é o favor imerecido de Deus, fica no fundo da gaveta. Jesus? Quem é esse? Quase não é mencionado, a não ser como mantra. 
Hipócritas! Destruíram a loucura do Evangelho, o escândalo da Cruz. Invalidaram o sacrifício do Cordeiro, do Eterno, que se fez carne, nasceu, morreu e ressuscitou para reconciliar os homens com Deus e trazer Salvação.

Até macumba gospel já inventaram. Amuletos, sal grosso, arruda e outras tranqueiras são usadas em processos de "libertação espiritual", verdadeiras muletas da fé. Como se o sangue de Cristo já não fosse o suficiente. E para se obter tais itens, é claro, tem que contribuir - ou melhor, pagar. Precisamos de uma geração que se levante contra essas barbaridades e promova justiça.

 E aí? Quem quer ser Lutero?

Porque, se é promessa, não chegamos a ela por nenhuma obra, nenhum esforço nem mérito, mas somente pela fé. Pois onde está a palavra de Deus que promete, ali é necessária a fé do homem que aceita, para que se evidencie que a fé é o princípio de nossa salvação, que depende da palavra de Deus, o qual sem esforço algum de nossa parte, por sua bondosa e imerecida misericórdia, se antecipou a nós e nos oferece a palavra de sua promessa. 

(...) Isso significa que o autor de sua salvação não é o homem com algumas obras suas, mas Deus por sua promessa para que tudo dependa da palavra da sua virtude, e por ela tudo seja sustentado e conservado, com a qual nos gerou para que fôssemos primícias de suas criaturas. 

Martinho Lutero – Do Cativeiro Babilônico da Igreja



Nenhum comentário: