Eu não gosto mais de fazer aniversário e segundo uma propaganda de cosméticos já tenho idade suficiente para usar o meu primeiro creme antirugas, só 'para prevenção'. A filha da vizinha cresceu e está de casamento marcado. Meu pai agora usa óculos e minha mãe precisa pintar os cabelos com mais frequência. Meus avós estão morrendo. O primo que eu carreguei no colo está namorando.
Eu tenho dívidas e um cartão de crédito, tenho 'experiência' e tô desempregada. Na velha casa onde meus avós moraram, eu consigo ver pela janela da sala o rosto de um desconhecido. Os móveis não são mais os mesmos e a parede tão calejada já não é bege. O bar da esquina onde eu costumava mendigar um chocolate pro meu tio fechou e virou um cubículo abandonado....
Eu tenho dívidas e um cartão de crédito, tenho 'experiência' e tô desempregada. Na velha casa onde meus avós moraram, eu consigo ver pela janela da sala o rosto de um desconhecido. Os móveis não são mais os mesmos e a parede tão calejada já não é bege. O bar da esquina onde eu costumava mendigar um chocolate pro meu tio fechou e virou um cubículo abandonado....Eu olho para trás, para uma época não tão distante assim, e sinto falta daquela certeza inabalável que eu tinha de tudo. Eu acreditava mais em Deus, acreditava mais em mim e nos outros. O futuro parecia incrível e seguro. Eu amava minhas ideologias e poderia, sem exagero, dar a minha vida por elas. Não tenho saudades de andar vendada, não quero de volta a inocência perdida.
Hoje, assim como ontem mas não como anteontem, eu não tenho nenhuma certeza, o futuro é mistério: eu tenho medo do tempo. E do passado, tenho essas lembranças nítidas. Tinha também um incômodo quando pensava nas tantas situações mal resolvidas - mas o tempo, depois de um certo tempo, foi o que mostrou que não havia mas como fazer o não feito: já havia passado da hora. Cresci. Passou. Hoje não é mais o momento, o ontem não volta e amanhã é muito, muito tarde. Passou.
(Mas ontem um fantasma do passado com o qual eu não trombava faz tempo escapou do cemitério enquanto eu olhava pra trás e deu as caras. Ele anda vagando por aí como uma alma penada, e apareceu nítido e deprimido: uma alma presa no tempo pedindo para ser libertada. Ela quer ser salva e só eu posso fazer isso - ela quer que eu resolva o não resolvido. Mas já passou da hora. Mas ainda há muito tempo. Tem hoje. Tem amanhã. Mas já passou. Passou?!)
Eu fiquei pensando nisso e não consegui dormir. Não consegui comer. Nada me distraiu. Mas agora eu hei de ter paz....
As coisas mudam de uma maneira assustadora e irreversível.
4 comentários:
Ô Thayla, eu sempre passo por aqui, só não costumo deixar comentários. Mas hoje eu vou quebrar o protocolo e escrever alguma coisa.
Apesar de desejar que tantas coisas nunca tivessem passado, gosto das mudanças.
Gosto de não saber o futuro, e ir descobrindo tudo. Sinto grande saudade do que ainda virá por crer que há de ser bem melhor do que tudo o que já se foi.
Um Beijão!
Acredito que nada passa realmente, ficam as lembranças, as sensações e o que vc aprendeu..os fantasmas tbm aparecem as vezes, mas dá pra mandar embora com força de vontade .rs
Sou estranha pra falar disso, ainda estou exorcisando alguns!!
bjo Thayloca!
É meninas, dá pra perceber que eu tbm ainda estou exorcizando alguns dos meus fantasmas né? Li uma frase do Kevin Arnold, personagem da série Anos Incríveis, que é perfeita pra situação:
“Crescer nunca é fácil, você se apega a coisas que já eram, você se pergunta o que ainda está por vir, mas há momentos em que percebemos que está na hora de deixar para trás tudo que já era, e olhar para frente. Outros dias, novos dias, dias por vir. A questão é, não devemos nos odiar porque envelhecemos, mas devemos nos perdoar porque crescemos.”
meu, você escreve muito bem (:
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